Publicado em: 22/09/2022

Há 7 anos promovendo uma riquíssima ideação sonora que cerca diferentes movimentos musicais mesclados às sonoridades mais chill out, Downtempo, experimentais e orgânicas da música eletrônica, a label brasileira Tropical Twista lançou uma coletânea especial, "Embatucadores Remixed". A iniciativa criou um verdadeiro crossover cultural que gerou várias ramificações e reuniu 10 artistas de cinco países, entre homens, mulheres e não-bináries.

O combustível para a realização deste projeto foi o grupo Embatucadores, com expertise artística singular em sucata e batidas do corpo, isto é, instrumentação percussiva a partir de objetos de "ferro-velho". A ideia por si só já impressiona e reforça a fortuna artística do Brasil. O Embatucadores foi criado há quase vinte anos e começou como um projeto de iniciação musical da escola pública Flaminio Fávero, em São Paulo. 

A Tropical Twista, com toda a sua vibe "etnotrônica", ganhou sinal verde do grupo para remixar as faixas de seu álbum "Terra Brasilis", também lançado este ano. O resultado é uma poderosa imersão por várias vertentes de música eletrônica – tudo muito bem dialogado em sua narrativa sonora, por sinal –  com menções a estilos que vão desde o funk carioca e forró até o drum n´ bass e breakbeats, bem além do clássico downtempo da label.

A curadoria do projeto ficou nas mãos de Kurup a convite da MCD Records, gravadora que lançou o projeto original dos Embatucadores e escolheu a Tropical Twista com "hostess" dos remixes. O DJ e produtor desenvolveu-se no cerrado e foi parar em Portugal, onde reside atualmente. Além dos vários artistas brasileiros presentes no projeto – alguns deles, Evehive, R Vincenzo, Cigarra e Numa Gama –   Kurup proporcionou ao Embatucadores versões sintéticas de artistas de lugares como Argentina (Chancha Via Circuito), Equador (Joaquín Cornejo) e França (La Dame).

Portugal, é claro, não ficou de fora e foi representado por DJ Danifox. Ibu Selva, brasileiro radicado em Lisboa, como Kurup, mostrou seus beats também. O álbum já está disponível para audição nas principais plataformas digitais; se você curtiu, vale apoiar o projeto também no Bandcamp. Curiosos sobre o andamento deste belo material, decidimos conversar com Kurup. 




About Dj's - Oi, Kurup, tudo bem? Conte-nos, como você se relaciona com este projeto? Sempre se interessou em fazer isso? Há quanto tempo começou a esboçá-lo?


Kurup -  Alou. Tudo ótimo e por aí? Já fazem alguns anos trabalhando como produtor musical e cultural, então já era hora de unir alguns sonhos e habilidades minhas pra criar uma coletânea. Entretanto o convite veio do Roberto, que trabalha com a MCD e que gravou os Embatucadores em estúdios no Brasil. Quando o convite chegou pensei que era um momento bom pra curar e organizar essa equipe de artistas pra transformar e ressignificar o trabalho dos meninos. O processo todo durou um ano, toma tempo e são muitas pessoas envolvidas, mas foi muito divertido e me trouxe muita alegria quando vi tantos artistas que admiro tanto trabalhando juntos num só projeto. 


About Dj's - E a escolha do grupo Embatucadores, como se desenrolou essa troca musical?


Kurup -  Como disse, o convite veio pelo Roberto que tinha recentemente gravado as originais do grupo. Haviam outras possibilidades mas me interessou muito o caráter percussivo e inovador deles. Imaginei que seria um material sonoro muito flexível, bom para remixar.


About Dj's - E como foi todo esse processo de curadoria? Como você chegou neste time de 10 artistas?


Kurup -   A ideia foi criar um paralelo geográfico e cultural que cruzasse a América do Sul até a ponta da Europa, incluindo a península Ibérica e arredores, já que eu mesmo venho fazendo esse trajeto há alguns anos, entre Portugal e Brasil. Para além disso, um direcionamento importante foi o de criar uma equipe bastante diversa não somente em questões musicais mas também em questões de gênero, étnicas e sociais. O mundo é muito plural para que continuemos reforçando padrões hegemônicos e normativos. 


About Dj's - Quais foram os maiores desafios encontrados neste trabalho e como os superou?


Kurup -   O processo criativo é muito único e subjetivo, cada pessoa trabalha de um jeito diferente. Respeitar o tempo e método de cada é fundamental, ao mesmo tempo são necessários prazos e acordos. Foi a primeira vez que me submeti a uma função como essa e com certeza aprendi muitas coisas novas. De todo modo, para além disso não encontrei muitos problemas. Tenho a sorte de trabalhar com pessoas maravilhosas.


About Dj's - Como começou sua relação com a Tropical Twista? Por que acha que o selo é um bom lugar para depositar sua energia e criatividade?


Kurup -  Meu primeiro EP enquanto Kurup saiu pela TTR. Já são muitos anos de parceria e amizade. A ideia de nos juntarmos veio naturalmente. Para além disso fiz questão que o selo que fosse representar essa ideia fosse também brasileiro, apesar de termos vários artistas internacionais.


About Dj's - Agora sobre sua produção dentro do EP, a faixa "Oasis", qual foi sua conceituação?


Kurup -  Tô num momento navegando bastante por BPMs clássicos, que surgiram com a House Music e anteriormente com o Disco e o Funk. Então tenho feito muitas coisas entre os 115 e os 125. Fora isso acho que a faixa tem um estilo bem progressivo e meio etérico, o que são características comuns ao meu trabalho desde sempre, acho. Muita percussão, ficção e fantasia.


About Dj's - Você cresceu no Centro-Oeste e hoje mora em Lisboa, certo? Como é a cena de Downtempo e ethnic dance music por aí?


Kurup -  Sendo bem sincero não percebo muito uma existência de uma "cena" downtempo em nenhum canto de Portugal, para além disso, acho que nunca entendi muito bem essa categoria, que parece ser abrangente demais para tantas coisas que ela supostamente engloba. Eu sempre circulei muito pelo tempo, de 80 a 140 bpm então com certeza alguns dos meus trabalhos entram no que dizem ser Downtempo mas outras coisas não. Sobre o que chamam de ethnic dance eu compreendo melhor o que querem dizer mas renego também essa categoria. Eu nasci no Brasil, meus atravessamentos culturais vem de duas matrizes principais, a Latina e a Africana. Pra mim chamar o que vem desses cantos do mundo de etnico e o que vem da Europa ou da América do Norte de muitos outros nomes é só uma preguiça de apurar o tamanho da diversidade musical dessas regiões. De todo modo eu respeito e me interesso muito por etnomusicologia e acho que falta um esforço e uma delicadeza maior na hora de darmos nomes aos gêneros. O termo "world music", por exemplo, concentra em si uma problemática que não tem solução: O que é música do Mundo e o que não é? O que as pessoas fazem é jogar tudo aquilo que elas não sabem como categorizar nessa gaveta. Finalmente, pouco entendo sobre categorias (risos) mas vejo em Portugal algo que me interessa muito: uma confluência cultural gigante e que faz muito sentido pra mim. Em Lisboa existe bastante gente de países africanos, especialmente daqueles que foram colonizados por Portugal, assim como brasileiros e muitos outros povos da América Central e do Sul. Acho que estamos todos ainda tentando se entender entre Funaná e Cumbia, Quizomba e Samba, Fado e Merengue.


About Dj's - Onde te encontrar para te assistir tocar nas próximas semanas e o que podemos esperar do restante do seu ano?


Kurup -  No momento, respondo essa entrevista de Berlim. Fim do mês tenho data na Kater Blau e num festival nas redondezas chamado Lusatia. Depois, alguns shows na Grécia e fecho o verão em Portugal, onde fico os meses seguintes trabalhando no estúdio e aprontando ideias e produções novas para o fim do ano. 




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