Publicado em: 24/04/2023
A c r e m
a comemora seus 10 anos entregando boa música, aliada a experiências
de qualidade em todas as dimensões. Original de Pelotas/RS a Crema já
desenvolveu e vem consolidando um trabalho totalmente versátil, dinâmico, fora
dos padrões que estamos acostumados a ver, ouvir e sentir.
Cada edição dessa diferenciada experiência é pensada com muito carinho para com todos, tendo como satisfação a entrega de detalhes que fazem toda a diferença para um resultado com uma pista de dança em muita sintonia.
Ao longo dos anos a c r e m a foi se estruturando e se transformando em um core criativo, de música e arte contemporânea, onde a idealizadora Maria faz a direção de arte de diferentes segmentos deste dinâmico trabalho, atuando com elementos que compõe sua poética artística híbrida.
Desde o label Crema
Recordings, que representa uma das grandes paixões da idealizadora, a
cultura do vinil, o qual aposta na distribuição musical no seu formato
analógico, encontrando-se ao redor do globo em diversos países. Seu trabalho
contempla a criação de camisetas colecionáveis, shapes de skate de alta
qualidade hecho a mano no modelo slow de produção com uma fabriqueta muito
especial, com foco na cena local da cidade em que vive.
Sendo Crema ou Maria; um verdadeiro polvo criativo,
que ainda também estende mais um braço com a crema
schooling, abrindo as portas do seu ateliê oferecendo ciclos curtos ou
cursos mais extensos, estes do universo da cerâmica e pintura, disseminando
ferramentas para auxiliar o movimento onde tempo é arte.
Maria é uma artista de faces plurais – com um prisma
que brilha diferente a cada relance de luz, cultiva a sensibilidade intuitiva
em todas as frentes em que se propõe, isso retrata a mente criativa e
visionaria da Maria, DJ,label-manager e fomentadora cultural à frente dos
últimos 10 anos de um dos movimentos mais representativos do Brasil,
reconhecido por criar profundas conexões e experiências singulares.
Ela já passou por noites conceituadas, como no
Festival Legends (UY), Sonido Central (CO), Heard From Medellin (CO), Distrito
Club (Paraguai), D-Edge (SP), Club Vibe (PR), Colours (RS), apresentando-se ao
lado de nomes como Vera, Margaret Dygas, Laurine, Audio Werner, Stekke, Losoul,
Cabanne, Thomas Melchior, Lowris e Daniel Bell. (grandes nomes não é mesmo!?)
Não é à toa que a Crema, possui grande relevância na
cena eletrônica, afinal todo o trabalho que vem sendo feito durante esses anos,
só demonstra que a dedicação, e entusiasmo pela arte e qualidade musical, faz sentido.
Em comemoração aos 10 anos, tivemos um bate papo muito
especial com Maria, que compartilhou um pouco sobre essa trajetória excepcional
da Crema. Confira!
About
Dj’s: Olá Maria. Primeiramente parabéns pelos 10 anos da Crema! Estamos muito
felizes e agradecidos pela disponibilidade em compartilhar um pouco das
experiências dessa trajetória... Pois bem, algo que chama bastante a atenção, é
o formato que a Crema trabalha em cada edição, a conectividade com a natureza é
visível. Como você busca construir a musicalidade e energia de cada edição?
Maria: Oi pessoal, muito obrigada pelo convite e espaço para
compartilhar um pouco sobre meu trabalho.
Então, cada edição é única e vem cheia de
aprendizados. Para a magia acontecer, muitos elementos devem estar alinhados.
Não temos domínio de tudo, lidamos com pessoas, energias diferentes, e cada
edição é sempre um novo ritual que se inicia, tem meio e fim.
Temos
nossas organizações, previsões, equipe, formas de trabalhar e de conduzir tudo,
que são criadas a partir do que aprendo fazendo aqui mesmo, e hoje, felizmente,
os resultados são reais.
Por exemplo,
artistas que vem de longe tocar aqui, não se importam de virem até aqui, pois
já sabem que todo o processo apesar de largo (extremo sul do Brasil), vale a pena,
eu também sou DJ, além de produtora. Faço como gostaria que fizessem comigo.
O
cuidado no pensar na logística, na alimentação, cronograma com folgas para
ninguém correr, line-ups coerentes. Assim, o que era foco já é um hábito de
trabalho; servir os artistas da melhor forma e para os que vem dançar, a
entrega nas diferentes etapas do ciclo que envolve a experiência de estar
dentro do evento.
Hoje,
esse processo é uma marca registrada da crema, clara aos olhos de muitos - do
que é a experiência-serviço crema. O público, colaboradores, amigos, os que vem
de longe, todos identificam algo que vem desse olhar.
Sobre os line-ups, só bato o martelo quando visualizei e senti que realmente é isso que está coerente com a proposta do momento. As vezes demoro para encontrar a última peça que está faltando, mas ela sempre aparece. É intuitivo, sensível, é minimalista. Não faço nada que meu coração não esteja batendo, é sobre meu processo criativo, minha poética; tenho atenção. O resultado é de acordo com isso. A coerência na construção da narrativa, vem do sentir e estar atenta ao que é a crema, ao que ela comunica.
About
Dj’s: A Crema é segmentada, tem uma linha de som diferenciada. Diversos
artistas já passaram pelo line-up, e que vocêtambém já dividiu a cabine em
várias festas conceituadas. Dessa uma década de muitas experiências, poderia
citar qual ou quais momento(s), foi/foram marcante, que merecem destaque?
Maria: Não trabalhamos com rótulo musical e sim com um filtro
MINIMALISTA. Minimal é um lifestyle, esse universo nos ensina e nos forma,
criamos hábitos, rotinas e escolhas de consumo.
Na minha opinião, tudo vem a partir de uma visão, que se
abre para determinado caminho, através deste ponto musical e claro, ser um “DJ
DE VINYL” nos faz aprender coisas que são necessárias quando se carrega os
próprios discos, que para mim, é onde começa uma formação que reflete em todo o
resto do processo.
É simples, porém
não simplista. É sobre comportamento, movimento, atualmente já são 3 gerações
que dançam juntas, tudo vai se repetindo, lapidando e por fim, já se pode
chamar de estética; que é a apreensão pelos sentidos, a percepção. É uma forma
de conhecer (apreender) o mundo através dos cinco sentidos com o filtro que vem
desse aprendizado: a música e o que ela engloba. Esse percepção é o que faz ser
palpável o que acredito: “Art or
not at all”.
Quando
comecei entender cada vez mais em o que é que eu acredito, que sempre foi sobre
esse ângulo, o degrau por degrau, e fazer as coisas a partir desse filtro, eu
me apaixonei sempre mais pelo que fazia, e sigo até hoje fazendo da mesma
forma. Hoje, 10 anos depois eu tenho a certeza de que era por aí mesmo,
é o caminho mais longo, porém reconheço a solidez de alguns frutos que começam
brotar.
Aprendi
tanta coisa dançando, carregando muitos discos, servindo os DJs “mais velhos”.
Aprendi em casa, que devemos sempre nos cercar de pessoas que sabem mais que a
gente, e para mim, esses DJs que me cruzei e cruzo, foram e são os meus melhores
professores.
Cada um que me
cruzei tive certeza de que foi um presente, em alguma situação coerente com o
momento, e me trouxe alguma mensagem que fez toda diferença para seguir em
frente, com entusiasmo para aprender, estudar muito e acreditar na magia do
tempo e da constância. Eu acredito em
bons artistas e na boa música.
About
Dj’s: Se fosse para resumir em poucas palavras, toda essa sua jornada de
conquistas, desafios, realizações e surpresas em sua carreira, e na criação da
Crema, olhando para trás e analisando até o presente, qual o sentimento que
fica?
Maria: Às vezes, tenho certeza de que é coisa pra louco, seguido de um
sentimento que vale a pena estar envolvida, em algo que sempre no final, embora
o fardo ser intenso, faz sentido de forma positiva para meu crescimento
pessoal.
Sinto-me
motivada para os próximos anos, fazendo a mesma coisa e cuidando melhor ainda
de mim. Tocando menos um pouco, porém hoje, quero ter cada vez mais laços
estabelecidos em lugares e com pessoas especiais, onde sempre, por toda a vida
valerá a pena ir tocar para fazer isso para sempre.
Não sou a mesma Maria com a mesma vida, maturidade, vida de quando comecei, é preciso construir tua caminhada coerente com teu momento. É sobre isso. Os anos passaram e vi que construí algumas relações familiares e seguras que me fazem muito feliz e me despertam a melhor das vontades de tocar, passar música de outras formas, outras trocas.
About
Dj’s: E sobre as pistas que a Crema vem marcando presença, o que você tem
sentido que tem conectado o público nesses últimos tempos? E ainda, como você
enxerga a evolução da Crema?
Maria: Nada é do nada. As coisas vêm sendo construídas com constância,
além de acreditar no que está sendo feito, entendendo as limitações para fazer
o melhor que podemos com o que temos aqui e agora. Esse é o lema.
Atualmente a cena está em outro momento de quando
comecei, é necessário ser sensível ao que vem, entender os processos dos
momentos para saber um pouco mais sobre quem somos, do que podemos
ressignificar. E o que não abrimos
mão.
Cada
vez mais temos acesso a informação, a cena está prolífera, cheia de novos
talentos e núcleos musicais, e com isso, se torna mais ainda segmenta e
fragmentada, e eu sou entusiasta no pensamento que a partir disso é mais do que
claro: que o bonito é cada um poder ser e criar o que quiser da forma que
quiser. Sempre foi assim, mas agora é mais do que nítido, que o bonito é ser o
que somos. Ter boas referências sempre, fazer cópias, não.
Sobre
a evolução da c r e m a, vou
acessando o que vem pelo caminho e com calma tomo decisões e as coisas vão
acontecendo. É um caldeirão de criação, onde coisas estão constantemente sendo
criadas. O ritmo do processo vai ser sempre o mesmo, o tempo e a constância não
vêm sozinhos; vem junto mais clareza também. Desde 2013 criando essa narrativa
no que promovo. Tudo o que a gente planta vai crescendo e as coisas conectando,
tomando forma.
Para 2024 estarei super envolvida com projetos com viés ambiental, executando um projeto lindo para a cidade da Crema; Pelotas e vamos para abrir uma janela na percepção sobre assuntos desse nicho, com muita irreverência e arte, colaborando para um mundo mais desperto. Sou uma entusiasta do conservacionismo ambiental.
About
Dj’s: Queremos saber: O que pode nos adiantar para este ano de 2023, os
próximos passos da Crema? Rola dar um spoilerzinho [risos].
Maria: Esse ano, já tive a sensação que ele acabou, está rolando
bastante coisa legal e sou bem intensa, aí o relógio voa (risos).
Já
tive um pensamento engessado “a crema é
de pelotas, só acontece lá em pelotas”, e nunca topei fazer ela fora daqui
(recebi inúmeras propostas interessantes, nunca senti que seria interessante
executá-las, a crema é todo o serviço dela, além da pista e muito antes de
quando o portal do bosque se abre).
Agora, após 10 anos, em 2023...valeu a pena esperar,
as coisas se configurarem, nunca decido nada com emoção em relação a crema, sou
intransigente com as minhas fórmulas, prioridades não são o mesmo que definir
que são as coisas mais importantes. Minha
prioridade sempre foi desenvolver a linguagem crema e sempre entendi que ela
deveria ser no lugar dela.
De repente, após bastante tempo, e que eu já sei também como seria levar e ser ela em outro lugar, veio de presente a possibilidade de fazê-la em um local fora de série, que se alguém me perguntasse qual seria o lugar ideal no Brasil, seria esse. E ai vamos nós! É como um novo caminho que se abre para o inesperado, porém certeiro. Dia 13 de maio vai acontecer uma edição da crema em um lugar mágico, estou muito agradecida!
About Dj’s: Por fim, queremos saber: Como foi a edição em comemoração aos 10 anos da Crema? Sabemos que tivemos nomes importantes. Compartilha conosco.
Maria: Na verdade, é um ano inteiro de comemoração. Nunca comemorei
nenhum ano da crema, e sempre disse: é tão difícil tudo, vamos de “sem
emoções”, comemorar 1, 2, 3 anos...não! Mas vou comemorar quando tiver 10 anos,
aí sim! E cá estamos nós, (risos), rumo a um marco na história da c r e
m a. Estou muito feliz!
Nossa última edição, foi exatamente com os convidados que são a
minha família da música, e não por isso, e sim porque como nada é coincidência,
com eles começou tudo lá atrás, de repente tudo se alinhou para eles virem, e
se iniciou de fato mais um capítulo.
Agora, são os mais novos residentes da crema: Manglus e
Vale Volpe que também são residentes do Festival de Minimal
mais cool da américa latina que acontece no Uruguai o LEGENDS, que é uma
grande inspiração para mim, minha escola, onde eu amo dançar. São um dos meus
artistas favoritos e grandes amigos que a vida me deu. Esperem para vê-los
muito por aqui!
O momento agra é como um segundo livro da segunda década da c
r e m a que inicia, é interessante e vale dizer que sinto a energia do
universo minimalista minimaleiro voltando com tudo novamente e devo agradecer
muito aos que estão fazendo acontecer essa edição no dia 13 em Balneário
Camboriú/SC (logo vocês vão saber), pois eles que vão puxar, abrir espaço e ser
possível isso tudo, um sonho! O vôo mágico da c r e m a!